domingo, maio 29, 2016


Flor

A terra está lenhada, machucada e meio infértil. Foi resquício de uma planta mal cuidada. Que decepcionou e acabou levando (quase) todos os nutrientes. Não deu nada certo na hora de colher, na hora de acabar ou sair. Acho que a planta era daquelas venenosas ou daquelas egoístas. Pensou só nela e foi seguir algum outro caminho ou jardim.

Traumatizou. A terra percebe que tem seu ciclo e tenta estipular um tempo e uma teoria de recomposição. Ela não quer mais correr riscos. Talvez, ainda tenha sujeira no jardim. Ela juntou o que sobrou, guardou o que deve ser lembrado de vez em quando e vive se preparando. Mesmo sem querer, ela ainda sente a brisa boa de um jardim colorido e saudável e até ousa a sonhar com ele. Mas, melhor não.

Mal sabe a terra que os jardins surpreendem. Ou aprendem. Mal sabe a terra que as plantas venenosas são as que mais ensinam. Ou preparam.

Caiu uma semente por lá - nessa terra lenhada. Chamou mais atenção que o normal. Na verdade, conseguiu chamar atenção sem estar nos planos de nenhum jardineiro. Foi sem querer. Ela conseguiu sentir alguma coisa, pelo menos. De alguma forma, essa semente ajudava (muito) a terra. A se cuidar mais, a parar de olhar para o trauma do passado e a se divertir. Era engraçado e peculiar. Tudo meio diferente. Ela sentia que não havia caído ali por acaso. Aquecia a terra, a mente e o peito. Ninguém sabia explicar. Ninguém queria. Mas todos sentiam. Quem passava pelo jardim percebia a diferença. Estava mais divertido. E a terra sentia ou queria sentir que ainda não era a hora. Mesmo sem saber o que poderia germinar ou se de fato, germinaria. Melhor não. Ela se defendia. Criava tempestades e motivos mas mesmo assim, deixava a semente por ali. Fazia bem e ela queria. Sem querer. Mesmo que estivesse, não estaria. A semente já fazia parte da rotina, das aflições de todos os dias e dos nutrientes vindos do sol. Que medo. Era (muito) bom. Elas se regavam, se cuidavam e se esquivavam. Existia um fato: a terra estava muito mais fofa. Foi ficando, foi gostando, foi envolvendo. Ninguém queria sair. Mas, melhor não. Talvez, ainda não fosse a hora. Talvez, não exista hora. Talvez, a gente que crie. Talvez. Acho que elas querem. E vão querer cada vez mais.

Deu flor.

Tem como cortar o caule agora!?

segunda-feira, maio 02, 2016


Oração do Eneagrama


Que o 8 nos de poder para atingirmos nossos objetivos. Para as coisas que precisam sempre acontecer, que tenhamos essa força. Quando pesar demais, que o 9 nos traga a paz para buscarmos harmonia e consenso. Nossa realização. Queremos a perfeição do 1 para gozar de ordem e da qualidade. De planos, projetos e vida. Sejamos excelentes. Que o 2 nos ajude a nos tornarmos indispensáveis. O que precisamos, outro alguém já enxergou. Sejamos uteis e prestativos. 3 vezes mais vitórias. Que o fracasso seja evitado e que os campeões sejam valorizados. Vamos estampar um 3 na capa da revista. Seremos vitoriosos. Que o 4 nos mergulhe para encontrarmos alguns sentimentos nas profundezas do oceano. Sejamos belos entendendo o significado maior da vida. Que a privacidade do 5 nos traga cada vez mais conhecimento, fatos e dados para seguirmos com objetividade. Venha o 6 para nos proteger de todo o mal que há no mundo. Precisamos nos lembrar dos perigos e evitar todos riscos. Sejamos precavidos. Que o 7 nos deixe mais leves e positivos para evitarmos as dores e termos esperança de um mundo cada vez melhor. Em nome do autoconhecimento, dos tipos e da descoberta, Amém. 

terça-feira, abril 05, 2016


Res(saca)


Estamos bêbados. Não dá pra enxergar a realidade exatamente como ela é. A gente nem quer. É gostoso se sentir assim. Bêbados e apaixonados. Vale chorar, rir, gritar e fazer algumas loucuras. O coração pula e a gente quer mais. Mais uma dose e mais um beijo. Vários. Mais uma música alta e mais um eu te amo. Todo tempo é pouco e toda vida parece estar planejada. A gente quer. Comemoramos os exageros, não lembramos das consequências e vivemos de um jeito peculiarmente diferente. As coisas são mais bonitas e o mundo parece ser um lugar mais agradável
Quem nunca deitou e sentiu o mundo inteiro girar!? Bebeu ou estava completamente apaixonado. 
Como a maioria das coisas, o efeito passa. O mundo gira torto, a barriga reclama e o mal estar começa. Precisava beber e gostar tanto? Como eu fui bobo. Que falsa sensação, que alucinação. Eu devia estar bêbada. Nós estávamos. Dói entender que nem tudo foi verdade ou que foi verdade mas acabou acabando. Você precisa sacar. A vida tem dessas. Quase tudo sempre acaba. Pro bem ou pro mal. Agora, você aguenta as consequências. Bebe água, vomita todas as dores, entende alguns acontecimentos da noite passada e dorme. A gente quer que passe rápido. O enjoo e a saudade. A gente se culpa por ter bebido demais, acreditado demais e se doado demais por uma coisa que não faz mais sentido. Ou que não foi verdadeira. Vomita mais um pouco. Sente uma dor de cabeça que alucina todas as ideias e quer sumir. Se convence: nunca mais vou beber, nem amar. 
A gente também cansa de se culpar e sofrer por um porre passado. Todos já bebemos, amamos e vivemos. Continuamos. 
O enjoo vai melhorando e a cabeça nem lateja mais tanto assim. Você se conforma. Encontra remédios, simpatias, orações e técnicas. Ativa alguns gatilhos mentais e se convence. É hora de seguir. É hora de entender. Não dói mais igual doía antes. Guardei as lembranças da noite e da paixão. Entendi que faz crescer e renovar. A gente não quer mais passar mal e então, nos cuidamos mais. Da próxima vez, vamos beber mais água e comer antes da primeira dose. As próximas vezes sempre existem.
Cicatrizou. Sacar a ressaca engrandece. Prepara. Quem nunca tomou um porre, não sabe como se livrar dele e quem nunca amou, não sabe como o coração é capaz de sentir. Dor e amor. 
Estamos prontos, de novo. Dessa vez vai ser diferente. Saca? 
Mais uma dose, por favor. 

terça-feira, março 15, 2016


Trabalh(ando)



** Para Alessandra Tavares, Beatriz Bressam, Camila Rocha, Gustavo Bassan, Jaqueline Zanovelli, Nicole Zuñiga, Roberto de Lima e Rodrigo Molitor - em ordem alfabética, ok?


Chegamos lá. Naquela vida de adulto de estudar, trabalhar e renovar e resolver e se comprometer e se responsabilizar. Chegamos lá, Aceitamos desaforos, engolimos o choro e temos que tomar pelo menos duas decisões importantes - que vão afetar a vida de outras cinco pessoas - todos os dias. Chegamos lá. Esquecemos a dor de cabeça, nos atrasamos e temos que resolver cinquenta e sete problemas por dia. Já chegou? Ainda não. Estamos trabalhando e andando.
Tenho gostado muito de andar assim. Esse caminho tem me feito enxergar (com dificuldade) alguns valores. Aprendi que sonhos podem caminhar juntos e que podemos colocar motivação em cada situação desse árduo trabalho. Trabalho que tem a ver com aprendizado, trabalho que tem a ver com objetivo, trabalho que tem a ver com sonhos e com prazer. O trabalho é seu mas atinge - pelo menos - outras 2 pessoas. E atingir pessoas de forma positiva e para o bem, consegue nos tornar operários cada vez melhores e dispostos. Ganhar dinheiro é (muito) bom, mas melhor ainda é sentir no peito o bem que você faz para alguém. E você fez isso com o seu trabalho. Consequência. Qualquer tipo de profissão consegue, sabia? Já parou para pensar? Enquanto a Secretária consegue dar um bom dia cheio de amor e indicar um jeito excelente de tratar o seu dente, o Engenheiro pensa em cada detalhe da sua nova casa. E ah, a Psicóloga não quer só atender, ela quer produzir conteúdo para ajudar as novas mamães depois do parto. Ela precisa ajudar essas mulheres. Percebeu o quanto muitas sofriam.
O Desenvolvedor Web faz sites incríveis - com muita responsabilidade - e ao perceber a sua tristeza (talvez porque entenda um pouco mais sobre a programação da mente) te envia palavras de apoio que mudam completamente o rumo do seu dia. E se a língua é o chicote da bunda, hoje ela vai me chicotear por falar para o bem.
A Coach quer muito te ajudar a chegar lá (no seu objetivo) mas ela também acaba virando amiga e te faz chegar em tantos outros lugares, por amor, por amizade, por amar e andar para o que faz. Ela encanta e ajuda - fora do expediente e sem obrigação nenhuma - mil pessoas, todos os dias.
Sabe aquela Vendedora da loja de roupas infantis? Além de ela achar um sapatinho bem lindo para a sua filha, ela te recebe com um sorriso incrível que aquece o seu coração. Ela gosta. Ela aprende com as vendas. Que talvez sejam consequência do seu bom desempenho e alegria.
O seu Sócio, que é mais tímido, introspectivo e tem dificuldade em falar em público, tem ideias incríveis e se mata para fotografar um evento de MMA. Ele amou o que fez e por isso, fez muito bem. Naquela noite, ele andou e fotografou um sonho e não sofreu por se sentir incapaz. Ele anda procurando um lugar. Um caminho e um sonho.
Um outro Coach precisa escrever para o seu público porque seu site precisa ser interativo. Mas, ele não só escreve como transborda o que acredita. Com o coração. Além de deixar o seu site atualizado, consegue emocionar e ajudar outras pessoas. Ele ama.
A Estagiária começa trabalhando de graça. Para acumular experiências e para sentir o prazer de conhecer o universo da sua profissão, que ela também ama. Tão apaixonada que encanta em cada traço de cada arte que produz. Além de entregar, compartilha em sua própria página. Em sua própria vida. Ela acredita no que faz, no que produziu. Por consequência, hoje ela já ganha alguns trocados com isso. E vai ganhar cada vez mais.
A Jornalista apaixonada não conseguiu ficar desempregada. Nem por 2 meses. Ela trabalha - literalmente - o dia inteiro e ganha pouco. Trabalha para ajudar, para conhecer e para fazer acontecer. E ela sempre faz. Faz aquilo com tanta facilidade que parece hábito. Nunca fica parada - porque não quer e não tem oportunidade (Trabalha em um de manhã e em outro a tarde/noite). Ela é boa.
Uma outra Jornalista ainda não sabe muito bem o que quer seguir. Não sabe se redação, não sabe se âncora do Jornal do Nacional ou assessora de imprensa. Mas ela anda. Vai conhecer cada área e participa de cada uma delas com total profissionalismo e competência. Ela quer aprender. Ela gosta de contar histórias e poder ver em cada um dos entrevistados, um novo aprendizado.


Acho que o trabalho é a vida real, mais real do que nunca. As coisas se misturam (amores, sonhos, objetivos e prazeres) e nos fazem andar. Encontramos decepções, amigos, apoio e muito trabalho. Sem sentir, sem querer.


Quando trabalhamos e andamos para aquilo que acreditamos, tudo faz sentido. Cada um com a sua personalidade ou tipo (do Eneagrama rs) consegue entregar alguma coisa de valor para alguém. E quando isso acontece, todos os desaforos, todas as desmotivações e todas as preocupações, ficam para trás. São engolidas - e logo aparecem de novo e são engolidas, de novo. Como um ciclo. O ciclo de quem trabalha.
Por mais Profissionais assim, com LETRAS MAIÚSCULAS e brilho no olhar.
Precisamos andar e trabalhar para o que nos faz nos sentir vivos e úteis. E amigos, isso sempre existe em algum lugar. É preciso achar e quando achar, fazer o melhor que pudermos. Você vai respirar mais aliviado e satisfeito.

Como eu, que ando trabalhando. E amando ;)

quarta-feira, janeiro 20, 2016


Privada

Sentei pra fazer xixi e não deu. Não deu porque a privada aqui na casa nova é quadrada. Pra quem fez xixi a vida inteira em privada redonda, sentar em uma quadrada é um tanto quanto estranho. Não sai, a bunda dói e o pé formiga - acho que esse formato quadrado de ser, prende o sangue. Vamos concentrar! Xiiiiiii. Como é difícil se acostumar com novos hábitos que a gente não desejou ou previu. Você tenta enxergar o novo e se imaginar diferente a partir dali, mas incomoda muito. É como se você estivesse sentado na privada errada. E sim, você precisa fazer xixi de qualquer jeito. Não existe alguém que não faça. Você não pode ser privada de nada. Não merece. Precisamos nos adaptar. Em todo tempo. E então, eu abri a torneira. Depois de alguns minutos e de muitas situações (des)encaixadas, o xixi começou a sair. Todos os dias, eu aprendo alguma coisa com essa nova realidade - da privada quadrada. Ainda prefiro a redonda mas ufa, já estou mais leve. Mijei! 

sexta-feira, dezembro 18, 2015


Travessia

Isso precisa ser feito, mais de uma vez. É chato viver na beira, sem correr riscos e comer areia. Pra saber o que tem do outro lado, você precisa dar um jeito de ir até lá. Pode mergulhar, remar e às vezes até se afogar. Levante mais sábio e continue. Aprenda com os peixes, com os pescadores e até com as conchinhas. Todos eles podem acrescentar alguma coisa e deixar a travessia mais fácil. Se avistar um banco de areia, tente desviar. Um barco emperrado costuma dar um certo trabalho a mais. Mas, se não conseguir ou simplesmente quiser passar por isso, siga em direção a ele para aprender algumas manobras - pode doer e ralar, mas de uma coisa eu te garanto: você vai sair de lá (do banco de areia) muito mais forte e preparado para os próximos tombos. Não podemos acabar com esse tipo de dificuldade. Ninguém pode evitar. São crivos da vida e das águas. Mais uma dica: vamos procurar um farol. Eles nos ajudam a voltar para casa e para o que realmente somos. De alguma forma, eles também sempre estão lá esperando, torcendo e iluminando os nossos caminhos. Precisamos atravessar e entender algumas coisas! Vivo para descobrir o que tem dos outros lados. Da vida e das águas. 

quarta-feira, outubro 28, 2015


(Mu)dança

A minha (ex) casa está vazia agora. As paredes só ficaram com aqueles furinhos, sem quadros. Lindos os quadros que não estão mais por aqui, inclusive.
Dentro do guarda roupa não tem mais roupas e dentro das gavetas do meu criado mudo não existem mais fotos, nem cartas, nem aquela caveira mexicana que eu pintei em Cancun. Tive que tirar tudo de dentro. Estou de mudança! De casa, de planos, sonhos e esperanças. Faz parte do ciclo? Essa casa não é mais a casa pela qual eu me apaixonei. Agora ela parece tão fria e consegue me negar um conforto durante a noite. Não posso mais chamar de lar. Quem diria!?
A vida despeja a gente, às vezes. Despeja pra que a gente mude. Por bem ou por mal. Você precisa colocar a sua viola no saco e sair. Você precisa abrir uma torneira que saia bastante água e não só umas gotinhas, como a torneira aqui da minha (ex) casa. Isso não combina comigo, nem deveria combinar com ninguém.
É hora de achar o controle da tv que estava perdido embaixo do sofá há tanto tempo, é hora de lembrar quem é quem, de decidir o que vai e o que fica. E nessa hora da mudança - entre tanto pó e lembranças que não (podem) fazem mais sentido - você tem que se importar com o que vale a pena. Precisa pensar nos objetos e móveis que devem ser carregados e dançar conforme a nova música. Estou deixando alguns contra a minha vontade e alguns outros decidi empacotar pra abrir depois, mas isso também faz parte do processo. Eu gosto de coisas fortes e cheias do que acreditam. Nunca vi isso aqui na minha (ex) casa.
É ruim ver os quartos vazios, as camas desmontadas e um monte de gente carregando suas coisas pra um novo lugar. Dá uma sensação estranha dentro do peito e você se pergunta: como é que eu vou fazer agora!? Vai lá pra ver. Deve ser legal montar uma nova casa, afinal.
 E o moço que carrega o caminhão pergunta "o que você quer levar na frente?". Novos sonhos, moço. Engata a primeira, segue e deixa a porta encostada. Vamos pra frente nessa (mu) dança.